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O meu amor foi para o Brasil nesse vapor Gravou a fumo o seu adeus no azul do céu Quando chegou ao Rio de Janeiro Nem uma linha escreveu Já passou um ano inteiro
Deixou promessa de carta de chamada Nesta barriga deixou uma semente A flor nasceu e ficou espigada Quer saber do pai ausente E eu não lhe sei dizer nada
Anda perdido no meio das caboclas Mulheres que não sabem o que é pecado Os santos delas são mais fortes do que os meus Fazem orelhas moucas do peditório dos céus Já deve estar por lá amarrado Num rosário de búzios que o deixou enfeitiçado
O meu amor foi seringueiro no Pará Foi recoveiro nos sertões do Piauí Foi funileiro em terras do Maranhão Alguém me disse que o viu Num domingo a fazer pão
O meu amor já tem jeitinho brasileiro Meteu açúcar com canela nas vogais Já dança o forró e arrisca no pandeiro Quem sabe um dia vem Arriscar outros carnavais
Anda perdido no meio das mulatas Já deve estar noutros braços derretido Já sei que os santos delas são milagreiros Dançam com alegria no batuque dos terreiros Mas tenho esperança de que um dia a saudade bata E ele volte para os meus braços caseiros
Está em São Paulo e trabalha em telecom Já deve ter “doutor” escrito num cartão À noite samba no “Ó do Borogodó” Esqueceu o Solidó, já não chora a ouvir Fado Não sei que diga, ele era tão desengonçado Se o vir já não quero, deve estar um enjoado